domingo, 13 de fevereiro de 2011

Reportagem

“O que está na mídia é uma vergonha”

Bembem


Humberto Dantas ganhou o apelido de BemBem aos 10 anos de idade, quando fez seu primeiro teste de aptidão para a música. Ao avaliá-lo, o maestro Urbano Medeiros disse que o menino solfejava “bem…bem” enquanto cantava. Na ocasião, ele foi selecionado para banda de São José do Seridó, e os colegas, para provocá-lo, passaram a chamá-lo de BemBem, apelido que o acompanha até hoje e virou sinônimo de um regente dedicado ao ensino da música às crianças e jovens de Cruzeta.
BemBem entrou para a Banda de Cruzeta, ou Filarmônica 24 de Outubro, em 1988. Então com apenas 19 anos de idade, o maestro já adotava a postura de demonstrar através da música o “orgulho de ser sertanejo”.
Nesta entrevista, o regente fala da necessidade de “valorização dos nossos artistas” que não têm reconhecimento pela qualidade de seus trabalhos. BemBem defende a criação de um movimento que possa promover a divulgação e a defesa dos talentos locais.
Humberto “BemBem” Dantas, que fez da Banda Filarmônica de Cruzeta uma das mais reconhecidas do RN e do Nordeste, já tendo levado músicos até a Europa, acredita no poder da música e vê nela uma ferramenta importante para a formação “não só de músicos, mas de cidadãos”. A grande paixão pela música se revela em sua filosofia de ensino: “Te ensinarei uma nota e você descobrirá o mundo”.
Correio da Tarde: Desde que o senhor entrou na Banda de Cruzeta até hoje, quais foram as principais mudanças e desafios?
Bembem Dantas: A principal dificuldade era a banda ter uma consciência, uma constituição enquanto escola de música. Essa consciência é muito difícil de transpor, criar idéia de que nos éramos uma escola e podíamos assumir nosso próprio caminho, superando preconceitos e desafios como o de se tornar uma orquestra e permitir a entrada de mulheres na banda, que na época era vista como um ente militar permitido somente para homens. Tornar a banda uma escola de vida, de socialização, de música e cultura foi a principal mudança e conquista durante esses anos.
O que representa a banda para o senhor e para seus alunos?
Para mim, é minha vida. Foi onde eu, como alguém que acredita na juventude e no país, pude fazer um trabalho sério, que, sem a presença de politicagem, tem condições de prestar um grande serviço à comunidade. Pessoas que poderiam estar perdidas na vida, ganham a oportunidade de descobrir e mostrar seu talento e conquistar algo com isso.
Como você analisa essa questão de que muitas vezes artistas locais que não se destacam tanto aqui acabam adquirindo um reconhecimento melhor fora do Estado?
Eu acho que existe um desprezo, um grande descaso com o artista local. Nós temos um governo que não investe em cultura e que quando investe alguma coisa considera como um gasto. Não são aprovados projetos. O que se vê é muita desorganização e não existe nenhuma ação no sentido de melhorar essa situação. É de uma grande tristeza ver que artistas maravilhosos que temos em nosso Estado não tenham o lugar de destaque que merecem.
Que incentivos você acha que poderiam ser aplicados na área da cultura?
É preciso uma união das pessoas que se sentem prejudicadas por essa situação no sentido de desencadear um movimento que possa impulsionar as produções desses artistas, como a criação de um selo, de um estúdio de gravação, de uma editora e algo mais que possa nos ajudar a mostra nosso trabalho. É necessário bater de frente e apresentar novos projetos para fortalecer essa área cultural.
Como você avalia o atual cenário musical que se destaca na grande mídia?
O que está na mídia é uma vergonha. Não existe ninguém que não saiba o que é jabá, o que é pagar para tocar, se usar de influência econômica e política para se promover. Eu acho que esse é o ponto de exterminação da nossa cultura.
Quanto ao ensino da música nas instituições de ensino? Como enxergar essa questão?
Nós temos um projeto para a música e temos que incentivar a inclusão da música no currículo escolar. Quando observamos o ensino da arte nas escolas nos deparamos com muitos professores mal capacitados, sem uma formação acadêmica que os possibilite passar um conhecimento importante para o crescimento dos alunos. É preciso que o ensino da arte e da música na escola seja revisto, muitos alunos vem se formando nos cursos acadêmicos de licenciatura para formar professores para a área musical.
O que você acha da invasão cultural que vem acontecendo nos últimos tempos?
Isso é um crime cultural, um verdadeiro desastre para nossa cultura e para nós como povo. A globalização não é uma coisa que vem de hoje, essa imposição cultural veio crescendo a um ponto que já tomou conta de tudo. Você liga o rádio ou a televisão e o que você vê são coisas apenas com o único propósito de gerar dinheiro.
Essa convicção e orgulho de ser sertanejo pode ser explicado?
Meu grande orgulho é o de ser sertanejo. Eu acho que a maneira humana do sertão deveria ser um modelo. Uma sociedade onde você ainda vê o valor da palavra, o valor da dignidade, da fraternidade, da comunhão, da religiosidade, o respeito com o outro e a coragem característica do sertanejo. No sertão não há lugar para a covardia e para a traição, é um lugar em que a luta pela sobrevivência é algo comum do dia-a-dia.
Quais são seus projetos atuais?
Meu projeto imediato é o de montar uma escola de música na cidade de Vera Cruz e continuar meu trabalho na Banda de Cruzeta. Outro projeto é dar continuidade a um trabalho que foi criado para implantar bandas e centros de formação musical em regiões do RN e, claro, continuar com minha cruzada na defesa da nossa cultura e de nossos artistas.
Felipe Gibson Especial para o Correio da Tarde

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UM EXEMPLO

Sexteto Quimporó

O Sexteto Quimporó é mais um fruto gerado do Projeto Música de Câmara, realizado pela Escola de Música da Associação Musical de Cruzeta - AMUSIC.

Criado em maio de 2001 durante o II Seminário de música da cidade do Assú,é composto por 06 jovens talentosos e dedicados, todos integrantes da Filarmônica de Cruzeta. O grupo fez sua primeira apresentação oficial durante o II Seminário de música desta cidade no mês de agosto do mesmo ano.

O sexteto Quimporó se destaca no cenário regional e estadual pelas inúmeras apresentações que tem realizado dentro da programação da AMUSIC, e também fora do nosso estado, entre elas podemos citar: II Seminário de Música de ASSÚ-RN, II Seminário de Música de Cruzeta-RN, I Seminário de Música de Natal-RN, Aula inaugural do núcleo de Educação musical de Uiraúna- PB, Master Class e apresentação promovida pela AJAC da cidade de São Tomé-RN, apresentação durante o evento de aniversário da banda de música de São Pedro-RN, vários recitais de conclusão de Bacharelado e Técnico do curso de música dos alunos da UFRN, apresentações no palco (Onofre Lopes) na escola de música da UFRN, e participações em diversos eventos promovidos pelo governo do estado.

Hoje o trabalho do sexteto vem ganhando mais consistência com o aperfeiçoamento profissional dos componentes, pois todos são alunos do técnico e do bacharelado na UFRN. O grupo tem como finalidade mostrar música de boa qualidade, aperfeiçoar as técnicas tanto dos músicos quanto do grupo, fazer apresentações sociais, divulgar a música Brasileira e em especial a música nordestina.

Sexteto Quimporó

Sexteto Quimporó
O GRUPO REVELAÇÃO DE CRUZETA ( ONDE SE APRESENTA DEIXA SUA MARCA MUSICAL) CONTATO PARA SHOW( 3473-2419/3473-2282 / 3473-2381) PROCURA MIZAEL OU FERNANDO

O QUE É CHORO?

O Choro, popularmente chamado de chorinho, é um gênero musical da música popular brasileira que conta com mais de 130 anos de existência. Os conjuntos que o executam são chamados de Regionais e os músicos, compositores ou instrumentistas, são chamados de Chorões. Apesar do nome, o gênero tem, em geral, um ritmo agitado e alegre, caracterizado pelo virtuosismo e improviso dos participantes. O Choro representa a formação instrumental mais tipicamente brasileira e o agrupamento musical mais antigo dentro da música popular brasileira.

O Regional de Choro é tradicionalmente formado por um ou mais instrumentos de solo (flauta, bandolim, clarinete ou saxofone) e pelo cavaquinho, violões e pandeiro no acompanhamento. O cavaquinho executa o "centro" da harmonia, um ou mais violões de 6 cordas (juntamente com o violão de 7 cordas) executam a harmonia e as variações/modulações, o violão de 7 cordas atua como baixo e o pandeiro faz a marcação de ritmo. O cavaquinho, apesar de possuir limitações com relação à sua extensão, também é usado como instrumento de solo.

O Choro, em sua essência, é um gênero musical puramente instrumental. Nos poucos Choros que possuem letra, pode-se dizer que grande parte foi escrita anos após o Choro ter sido composto ou mesmo anos após a morte do compositor.

Poderíamos dizer que o Choro, historicamente, começa a nascer na cidade do Rio de Janeiro no início do século XIX, com a chegada ao Brasil da família real portuguesa, que fugia da invasão de Napoleão e trazia consigo quinze mil europeus. Como conseqüência direta, a cidade do Rio de Janeiro passa por transformações urbanas e culturais sem precedentes. Músicos, novos instrumentos musicais e novos ritmos europeus chegam ao Rio de Janeiro e são imediatamente aceitos pela sociedade. Em pouco tempo, a cidade do Rio de Janeiro passa a ser conhecida, conforme dito pelo poeta Araújo Porto Alegre, como "a cidade dos pianos".

O Choro é o resultado da exposição do músico brasileiro aos estilos musicais europeus, essencialmente à polca (primeiramente apresentada no Rio de Janeiro em 1845), num ambiente musical já fortemente influenciado pelos ritmos africanos, principalmente o Lundu, já presente na cultura brasileira desde o final do século XVIII. Tal como o Ragtime nos Estados Unidos, o Choro surge em decorrência das influências dos estilos musicais e ritmos vindos de dois continentes: Europa e África.

A primeira referência ao termo "Choro" aparece na década de 1870, quando o flautista Joaquim Antônio da Silva Callado, considerado pioneiro nesse processo de fusão dos estilos e ritmos musicais europeus/africanos, cria um conjunto chamado "Choro Carioca". O Maestro e Professor Baptista Siqueira, biógrafo de Joaquim Callado, esclarece que "com o Choro Carioca, ou simplesmente "Choro de Callado", ficou constituído o mais original agrupamento musical reduzido do Brasil. Constava ele, desde sua origem, de um instrumento solista (a flauta), dois violões e um cavaquinho, no qual somente um dos compositores sabia ler a música escrita: todos os demais deviam ser improvisadores do acompanhamento harmônico".

De onde vem a palavra “Choro”?

Há controvérsias, entre os pesquisadores, sobre a origem da palavra "Choro".

O verbete pode ter derivado da maneira chorosa de se tocar as músicas estrangeiras ao final do século XIX, e os que assim a apreciavam passaram a denominá-la música de fazer chorar. Daí o termo Choro. O próprio Conjunto de Choro passou a ser denominado como tal, como por exemplo, o "Choro de Callado".

O termo pode também ter derivado de "xolo", um tipo de baile que reunia os escravos das fazendas, expressão que, por confusão com o parônimo português, passou a ser conhecida como "xoro" e, finalmente, na cidade, deve ter começado a ser grafada com "ch".

Outros defendem que a origem do termo deve-se à sensação de melancolia transmitida pelas modulações improvisadas de contracanto do violão (também chamadas de "baixarias").